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GOVERNO DÁ “LUZ VERDE” PARA REGRESSO AO ESCRITÓRIO. EMPRESAS PREFEREM SEGUIR PLANOS QUE JÁ TINHAM DEFINIDO
02 agosto Empresas

A decisão do Executivo não veio alterar os planos das empresas ouvidas pela Pessoas, que pretendem seguir os passos que já tinham definido. A maioria pretende voltar ao escritório em setembro.

O fim da obrigatoriedade do teletrabalho chegou mais cedo do que o previsto, tanto para especialistas como para empregadores, tendo desde domingo passado a ser apenas recomendado pelo Governo. Desde esta segunda-feira que as empresas já podem abrir portas dos escritórios aos seus trabalhadores, mas a decisão do Executivo não parece ter alterado os planos já definidos pelas companhias ouvidas pela Pessoas. Da banca ao retalho, até setembro a regra é business as usual.

“Já tínhamos planeado fazer a comunicação de um eventual retorno faseado a partir de setembro e não vamos destabilizar o período principal de férias, que é agosto, com a comunicação de novas medidas”, adianta Sandra Brito Pereira, diretora de recursos humanos do Montepio, à Pessoas.

Na Nestlé também não haverá alterações até final de agosto, seguindo-se o modelo de trabalho à distância. “O teletrabalho deixa de ser obrigatório, mas mantém-se como recomendado sempre que possível. Portanto, em linha com a recomendação do Governo, até ao final de agosto vamos manter tudo como está“, refere Maria do Rosário Vilhena, diretora de recursos humanos da Nestlé Portugal.

O regresso à sede em Linda-a-Velha dos cerca de mil trabalhadores que têm aí o seu local de trabalho habitual será feito gradualmente. “A ideia será, até termos imunidade de grupo, andarmos à volta de 50% de ocupação do edifício e, depois disso, retomarmos as atividades“, explica a diretora de recursos humanos da Nestlé Portugal.

Na multinacional, o trabalho remoto já era uma realidade antes da pandemia e deverá manter-se um modelo híbrido, apesar da antecipação do fim da obrigatoriedade do teletrabalho decretada pelo Governo no momento em que anunciou as três fases de desconfinamento do país, ditadas pelo ritmo da vacinação do País. A recomendação de teletrabalho, em vez da obrigação, chega inclusive mais cedo do que o previsto pelos especialistas na reunião do Infarmed. O cruzamento da proposta da pneumologista Raquel Duarte com a evolução do processo de vacinação apontava para a manutenção do teletrabalho obrigatório até ao final de setembro.

Mas na Manpowergroup a transição para um modelo híbrido não acontecerá antes de setembro. “O levantamento da obrigatoriedade do teletrabalho não veio alterar os nossos planos. Já estávamos a planear a transição para um modelo de trabalho híbrido, a partir do momento em que fosse levantada essa obrigatoriedade de teletrabalho, mas nunca antes de setembro, com a rentrée”, afirma Rui Teixeira, diretor-geral de operações do ManpowerGroup Portugal. A recrutadora aguardava a decisão do Governo para poder preparar a transição, nomeadamente ao nível da redefinição de espaços de trabalho, de estacionamento e da organização interna das equipas.

Já a Uber, independentemente da “luz verde” do Governo, decidiu estender o teletrabalho até outubro de 2021. “Estamos a cumprir integralmente as regras sanitárias e de saúde pública de cada mercado. O regresso ao escritório é voluntário para todos os colaboradores que assim o queiram ou não tenham condições para continuar a trabalhar remotamente”, diz fonte oficial da empresa à Pessoas. “Vamos estar constantemente a medir aquilo que são as práticas e recomendações das organizações de saúde pública e do Governo e, também, aquilo que nós consideramos importante dar aos colaboradores, do ponto de vista de flexibilidade e segurança”, acrescenta.

Na Beta-i, o anúncio do Governo também não alterou em nada o que já estava implementado desde o início da pandemia. Na consultora de inovação, o regresso ao escritório será, contudo, adiado por ainda mais alguns uns meses. “Continuaremos a adotar um modelo remoto e flexível de quatro dias e meio até ao final deste ano, com ocupação pontual e controlada da nossa sede física, consoante a necessidade de produção ou trabalho conjunto”, avança Pedro Rocha Vieira, CEO e cofundador da empresa.

“Esta situação não afeta a logística da equipa, pois toda a situação foi gerida, planeada e comunicada aos nossos colaboradores atempadamente. Não haverá mudanças ou surpresas no regresso das férias de nenhum colaborador”, garante.

Com as pessoas em teletrabalho, a Barkyn faz um balanço “bastante positivo” deste modelo e diz que, apesar da readaptação inesperada imposta pela pandemia, as mudanças foram “rápidas, produtivas e acertadas”. Graças aos bons resultados, a startup nacional que atua na venda de ração, vai manter o teletrabalho. “Estamos preparados agora para o bom funcionamento do teletrabalho e será para manter daqui em diante”, afirma fonte oficial da empresa.

No retalho, o Lidl, sem revelar uma data em concreto, adianta que está a desenhar o melhor modelo para um regresso progressivo dos trabalhadores. “O Lidl está a trabalhar num modelo de transição, que garanta o regresso de forma gradual e em segurança, com base num regresso progressivo dos colaboradores, no edifício da sede e restantes escritórios”, refere fonte oficial da empresa.

“Desde o início da pandemia que temos colaboradores em teletrabalho, pelo que, ao longo destes meses, temos preparado vários cenários, sempre em constante articulação com as áreas responsáveis por garantir um regresso em segurança, independentemente do mês em que ocorra”, acrescenta.

E o mesmo diz a Huawei. “Continuamos a analisar as medidas que vão sendo anunciadas relativamente ao regime de desconfinamento. Neste momento, estamos a trabalhar em vários cenários e possibilidades, sendo que as prioridades continuarão a ser a saúde das nossas pessoas e o apoio aos nossos clientes”, adianta fonte oficial da tecnológica.

Algumas empresas ouvidas pela Pessoas admitem a possibilidade de alguns colaboradores, com carro de empresa e com vacinação, possam já regressar ao escritório gradualmente em agosto, mas a maioria parece apostar num regresso depois do verão.

Agosto. Planear atempadamente ou mau timing?

Com a decisão do Governo a surgir praticamente em agosto das duas uma: ou deu mais tempo às lideranças para planear o regresso na rentrée aproveitando que muitos colaboradores estão, nesta altura, de férias; ou foi um péssimo timing, precisamente por acontecer no período principal de férias dos portugueses, ficando as empresas sem capacidade de reorganizar os planos já desenhados.

Ricardo Carvalho, CEO do Grupo Lisbon Project, inclina-se para a segunda hipótese. “Diria que é a pior altura para se fazer este anúncio, visto não haver massa crítica nas empresas para adaptarem processos e questões logísticas”, diz em conversa com a Pessoa. “Tomámos medidas atempadamente para não gerirmos os recursos humanos da empresa ‘navegando à vista’. A decisão do Governo, no caso dos vários departamentos do Grupo Lisbon Project, não terá impacto.”

A estratégia do grupo liderado por Ricardo Carvalho, que emprega 35 pessoas, passa por continuar em teletrabalho, de uma forma mais permanente até, passando o escritório a funcionar, sobretudo, para reuniões e brainstoming, “para as quais os participantes são sempre previamente testados”.

O WYgroup tem uma opinião distinta. “Agosto é por excelência um mês típico de férias, pelo que o nosso objetivo é aliar o regresso de férias a um regresso à nossa Casa de Praia (como chamamos aos nossos escritórios), começando um novo ciclo em setembro e desenvolvendo o nosso modelo híbrido, dentro dos nossos moldes e necessidades, a partir daí”, explica Rita Baltazar, partner do WYgroup.

Carlos Gouveia, CEO da Scoring, partilha da mesma visão: “O que me parece muito positivo nesta decisão é a previsibilidade do calendário para as duas fases seguintes. Podemos preparar atempadamente o regresso e fazer as adaptações necessárias para um cenário de uma quase normalidade. Quer do lado da empresa, mas também dos colaboradores, todos temos de reajustar as rotinas. A antevisão que o podemos fazer a partir de setembro dá-nos o tempo necessário para as mesmas.”

Na consultora, a decisão do Governo acabou por ter um impacto “quase nulo” na gestão da empresa, que prefere preparar o regresso com tempo. “Estas decisões, tomadas a 48 horas da sua implementação, tornam difícil à maioria das empresas a sua adoção imediata”, considera Carlos Gouveia.

Há casos em que teletrabalho pode continuar a ser obrigatório

A decisão do Governo não significa um regresso aos escritórios nos moldes anteriores à pandemia: horários desfasados e equipas em espelho deverão ser implementados pelas empresas, o que está, aliás, enquadrado num decreto-lei de outubro do ano passado. E o teletrabalho continua a ser obrigatório nos concelhos de risco elevado e muito elevado. Nos restantes municípios, o trabalho à distância é apenas uma recomendação e depende de um acordo escrito entre trabalhador e empregador, já se aplicando estas regras de horários desfasados e equipas em espelho.

O mesmo decreto-lei define ainda situações em que o teletrabalho continua a ser obrigatório independentemente do vínculo laboral e sem necessidade de acordo escrito entre o empregador e o trabalhador.

É o caso do trabalhador que, mediante certificação médica, se encontra abrangido pelo regime excecional de proteção de imunodeprimidos e doentes crónicos; o trabalhador que possua deficiência, com grau de incapacidade igual ou superior a 60 %; e o trabalhador que tenha filho ou outro dependente a cargo que seja menor de 12 anos, ou, independentemente da idade, com deficiência ou doença crónica, que, de acordo com as orientações da autoridade de saúde, seja considerado doente de risco e que se encontre impossibilitado de assistir às atividades letivas e formativas presenciais em contexto de grupo ou turma.

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